Aos dois meses de vida, Rodrigo Marques, popularmente conhecido como Alemão da Geral, já estava na arquibancada do estádio Olímpico pela primeira vez. Para muitos, isso é um absurdo, uma loucura. Mas não para o Alemão, que foi levado pelo seu pai ainda no colo. Isto é paixão, em outras palavras, amor pelo clube. Mas esse é o começo de uma relação com o Tricolor gaúcho. Na verdade, esse seria o pivô do início de um movimento que anos mais tarde seria criado por ele mesmo. Conforme o próprio torcedor, a Geral do Grêmio é a expressão deste e de outros fatores que alimentam esse sentimento.
O que tem se notado é que há uma mudança na concepção de torcer pelo time em campo. A filosofia tanto da Geral como da Guarda Popular, é fundada na idéia de total preocupação com o Clube do coração. Como define alemão.
“Nós nos preocupamos com questões desde o concreto solto na arquibancada até a gestão do presidente”, declarou.
“Nós nos preocupamos com questões desde o concreto solto na arquibancada até a gestão do presidente”, declarou.
Grande parte da população apenas vê a paixão expressada das arquibancadas, porém, não sabe como funciona a organização do espetáculo promovido em sempre atrás das goleiras. Ver o jogo não interessa para eles. Assistir a plasticidade de cada lance, não tem a menor importância diante da expressão do sentimento. As barras atravessadas e as bandeiras impedem que isso aconteça, mas não são empecilhos para que os mais puro sentimento seja traduzido nos cânticos e gestos feitos durante os 90 minutos de partida.
Tudo isso é facilmente observado pelo restante dos torcedores que se acomodam em outros setores do estádio Olímpico e do Beira-Rio, inclusive pela própria imprensa, que, às vezes, desdenha esse movimento ou até mesmo ignora essas situações. Entretanto, poucas pessoas param para pensar no processo de criação, ou melhor, como é realizada a comunicação nos bastidores que tornam isto uma festa inesquecível a cada jogo. Para colocar isso tudo em prática é preciso criar um movimento, isto é, se organizar e é, justamente a organização das organizadas é que chama a atenção.
Quando ainda tinha 16 anos, Alemão era integrante da Torcida Jovem. Ele fala que a filosofia era bem diferente na qual hoje faz a Geral do Grêmio ser conhecida no Brasil inteiro.
“Existia a idéia de confronto, de agressão física. As pessoas se reuniam em qualquer lugar da cidade para beber e se tivesse que trocar socos e pontapés com algum integrante da torcida rival a gente trocava”, disse Alemão.
Mas tudo começou de fato na Geral, quando o mesmo Alemão foi realizar um protesto, cobrando mais atitude dos jogadores pelo mau momento que o clube vivia em 2000. Identificado por alguns dirigentes, ele acabou sendo suspenso da Torcida Jovem. A partir desse momento, houve a idéia de criação de uma nova torcida com uma mentalidade totalmente diferente. Em outras palavras, Alemão resolveu fundar a sua própria torcida e iniciar o movimento que hoje torna a Geral do Grêmio a única torcida realmente organizada.
Em 2001, estava iniciando o movimento que hoje é referência para grande parte dos torcedores gremistas e que atrai cada vez mais pessoas interessadas em compor esse seleto grupo. Mas a organização não pára por aí. Saber o que outras torcidas fazem nas arquibancadas pelo mundo, exige pesquisa e isso Alemão garante que é feito.
“Estamos sempre atentos ao que é realizado em outros países. Se achamos que seria interessante trazer para o nosso lado, fazemos sem problemas, mas sempre inovando”, afirmou.
Mas o leitor pode deve ter se perguntado. Mas de onde vem o dinheiro para isso? Aí entra a criatividade dos integrantes da Geral. Venda de mantas virou uma febre na Capital do RS. Cada uma tem um custo médio de R$ 25 reais e é facilmente vista pendurada nos pescoço dos mais fanáticos torcedores. Adesivos com a logotipia da torcida e cores do clube e chaveiros também são fonte de renda. O próprio bolso, às vezes, serve de subsídio para a promoção desse espetáculo. Doações são sempre bem vindas sem falar nas viagens para outros estados, que evidencia a capacidade de se organizar desse grupo.
Alemão preferiu deixar nas entrelinhas como eles conseguem se deslocar pelo país para acompanhar o Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Porém, revelou que recebem ajudar de pessoas ligadas ao Clube, que acabam facilitando e diminuindo consideravelmente os custos da viagem. Apesar de Alemão não confirmar e adotar um tom mais discreto quanto à isso, algumas viagens para outras cidades de fora do RS custam somente R$ 10 reais. Prova que ter boas relações e se organizar é importante para quem quer fazer parte de uma grande torcida, isto é, de um grande movimento.
“Chegar em outra cidade e ficar rodando é perigoso demais e, justamente por isso, mantemos boas relações com organizadas de outros times. Com isso, eles nos esperam e sempre almoçamos juntos e ficamos nas sedes deles até a hora do jogo”, destacou.
Mas o que essas pessoas ganham dispensando tempo com isso? Alemão garante que respeito e reconhecimento pelo amor ao Grêmio. Hoje, a Geral tem dois representantes no Conselho Deliberativo do clube. Fato impensável até o início do ano 2000. André Gutierrez e Bruno Ortiz são os homens que estão atentos as decisões políticas que envolvem o Tricolor. Inclusive, a construção do novo estádio, a Arena, no Parque Humaitá, tem participação direta dos representantes da Geral. O projeto prevê três anéis, mas foi modificado para que atrás das goleiras não haja o anel do meio, justamente para que possa ser ampliado o espaço da torcida. Além disso, haverá cadeiras removíveis para que em jogos mais importantes e que o número de torcedores seja maior, a conhecida avalanche, marca registrada da Geral, possa ser realizada a cada gol do time.
“Com certeza, isso é uma conquista. Todo esse movimento e mudança na concepção de torcer fez com que os homens do futebol entendessem que sem a Geral eles perderiam força e que um clube sem torcida não anda”, avaliou Alemão, que reconhece que a caminhada não foi nada fácil.
As portas da sede da Geral, localizada na parte de trás do Olímpico, junto ao portão onde geralmente a torcida entra, estão sempre abertas garante um dos líderes junto com o Paulão, que hoje é candidato a vereador, na cidade de Canoas.
“Quem quiser fazer parte desse movimento e declarar o seu amor pelo Grêmio pode chegar que estamos sempre abertos, mas terá que cumprir alguns pré-requisitos”, salientou, enquanto seus colegas picavam papel na sede já preparando o espetáculo para o próximo evento.